Estranho ném!!? Bem, muito antes de
compartilharmos estes sabores vindos das sinfonias mergulhadas nas verdes alturas
de Montes Namuli, de referir que caminhamos a passos largos para a realização
da I Edição de Festival da Dança Niketxe. Muitas foram as perguntas que nos fizeram, tanto em conversas pessoais e nas redes sociais: ´´Que dança é? Nunca
ouvi dizer! Donde ela é originária? Porquê escolheram o Gurúè como anfitrião?
São legítimas as questões, por isso a
resposta encontrada foi única e questionável: Niketxe é a dança do chá!
Como se pode compreender, a resposta se baseia na teoria que define Niketxe como uma dança tradicional que é praticada na
zona norte da Zambézia, e era executada para exprimir sentimentos de sofrimento
em relação ao trabalho forçado nas plantações de chá.
Porque, segundo Renato Duarte (2006:01) na nota
introdutória da sua dissertação, o chá em Moçambique é produzido desde 1914, no
actual distrito de Milange, tendo mais tarde, na década 1930-1940, se expandindo
outras regiões de alta Zambézia, nomeadamente Gurúè, Lugela e Ile. Mas pelas
condições naturais do distrito de Gurúè, esta cultura desenvolveu-se com maior
relevância, tendo, em tão pouco tempo, ultrapassado os outros distritos, quer
em áreas de cultivo e emprego de mão-de-obra quer em volumes de produção e
produtividade.
Dai que a razão primária para indicação do distrito de Gurúè a receber este evento.
Quanto a origem da dança ainda prevalecem algumas contradições,
tomando em conta que não seguiu a mesma linha da evolução do chá. Esta dança, é
originária de Nampula, onde é praticada em alguns distritos da província, e
através das trocas culturais que vigoraram no séc. XX, a dança penetrou na
Zambézia no distrito de Gilé e se expandiu pela região norte da província
através do movimento do trabalho em companhias de chá no Gurúè, Ile e Milange.
Por esta razão, era praticada apenas por homens, tendo em conta que o trabalho
nas plantações de chá era apenas para estes.
Dança Niketxe | Foto captada por Amostra Sobrinho | Fase Distrital do Festival Nacional da Cultura - Alto Molocué |
Em algumas circunstâncias, também era
praticada em ocasiões de tristeza numa expressão de sofrimento. Na actualidade,
também senhoras a praticam e mesmo em ambientes festivos.
E quanto a composição instrumental, a
Kayo Omachi (2010:35), escreve que Niketxe, é uma dança que se inicia pela parte
do coro ou refrão e logo precedida pela parte instrumental.
E acrescenta que ela é constituída por
tambores de vários formatos e tamanhos, incluindo o famoso tambor “Nlapa”
associado a uma panela de barro. O tocador de ´´Nlapa´´ necessita de uma grande
perícia, pois, enquanto toca, introduz e tira da panela com movimentos das
pernas para variar o som, enquanto em simultâneo toca outro tambor “Npetxene”,
amarrado à perna.
O terceiro tambor é de nome “Mukunhary”,
um tambor diferente com uma parte revestida de pele de animal Ntabwe, espécie
de lagarto. O lado oposto é forrado por uma pele de “Nahe” gazela em português,
surtindo daí belos efeitos de som.
Ainda a completar temos mais tambores pequenos
de nome: “massa” com uma parte fechada e outra aberta. Para o controlo de som
destes tambores é usado um tipo de cola colhida de uma árvore “Nphira”. Por último
temos os chocalhos “Ngotxo” feitos de lata, umas ligadas as outras onde se introduzem
pedrinhas para a produção de sons estridentes.
Os chocalhos não só são para produzir
som, mas também fazem parte da veste do dançarino, porque revestem as pernas.
Também se usa “Nlope” que é chifre de animal, que é mais para provocar sons
convidativos às comunidades de aldeias vizinhas. Na veste ainda se podem vestir
de peles de animais e empunhar cauda de antílope ou animal semelhante.
Que tal!!? Valeu!!? Não pretendo
esvaziar a vossa atenção! E agora me respondam, Niketxe é ou não a dança do
chá!!??
É, com certeza, obrigada pela informação
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