CARVÃO OU PETRÓLEO SÃO FINITOS E GERAM DISPUTA, ENQUANTO QUE CULTURA, CONHECIMENTO E CRIATIVIDADE SÃO INFINITOS E GERAM COOPERAÇÃO
Na última comunicação sobre este tema neste meu
cantinho onde deixo as minhas ideias, fiz no final do texto a seguinte
pergunta: ‘’ E então, porquê é que a Indústria Cultural e Economia Criativa seria
bastante estratégica para Moçambique???’’
Feira de Moda Moçambicana - VII Festival Nacional de Cultura - 2012 |
Para melhor compreender por que a economia criativa é tão estratégica para o desenvolvimento sustentável é importante situar o momento presente, uma época à qual os historiadores do futuro provavelmente vão se referir como sendo talvez ainda mais significativa que a passagem para o Renascimento. Isso porque vivemos a época de passagem de milênios onde a vida esteve organizada em torno de recursos materiais, tangíveis, para uma era que tem sua centralidade nos recursos imateriais, intangíveis. Terra, ouro ou petróleo são finitos, inelásticos e por isso geram disputa. Cultura, conhecimento e criatividade são infinitos, elásticos. São recursos que não apenas não se esgotam como se renovam e multiplicam com o uso. Assim, podem gerar cooperação e não disputa.
O desafio agora é
fazer com que as lideranças dos sectores público,
privado, terceiro sector e empreendedores criativos tenham consciência
desta mudança
de
época, os enormes
potenciais
que
ela oferece e a mudança de mentalidade e políticas
para aproveitá-los.
A própria economia
terá que ser
revista,
já que sua definição
era
“ gestão
dos recursos escassos”.
Criatividade e cultura são
recursos abundantes, especialmente nos países do hemisfério sul, e representam um
enorme patrimônio, provocando uma revisão no conceito de riqueza e pobreza. Além do mais, a economia criativa tem estreita relação com as novas tecnologias – e bits também são infinitos.
Feira de Artesanato - VII FNC - 2012 |
Qual tem sido o papel do governo nesse
processo?
Por exemplo, o poço de petroleo só se justifica se puder gerar riqueza para todos. Todos os países onde se avançou na economia criativa tiveram apoio do governo, pois é preciso estrutura, criação de leis que a priorizem como estratégias de desenvolvimento. E em Moçambique, já se avança com uma proposta de política e estratégia das Indústrias Criativas e Culturais. Bom e grande passo dado. E então, esperemos a materialização.
Que estratégias são essas?
Que levem ao desenvolvimento não da economia criativa, mas do país, através dela. As políticas ficam focadas na erradicação da pobreza, mas não no reconhecimento das fontes de riqueza. Zambézia é riquíssimo em diversidade cultural, mas não existe investimento no processo que a transforme em riqueza. Em Moçambique, quem mais se movimenta é Maputo, Inhambane, Cabo Delgado e Nampula (particularmente a Ilha de Moçambique) no Sector de Turismo Cultural. Eles sabem que seu valor está na cultura e todos fomentam isso porque sabem que é o atractivo, a marca. É o que vai gerar negócios em qualquer área.
Discoteca CASA BLANCA - Um exemplo de Indústria Cultural |
Por que outros países estão interessados na economia criativa Moçambicana?
São vários interesses. A visão positiva é que, para o mundo se desenvolver, é preciso acabar com a pobreza. Outra, menos positiva, que precisamos ficar atentos, é que o intangível é um valor, um patrimônio. Já houve um processo de colonização dos bens tangíveis e pode estar em curso o mesmo processo para os intangíveis, a “matéria-prima” da vez. Tudo depende de como será conduzido, de como se estabelecem essas relações. A nossa grande questão é que ainda não temos parametros suficientes para medir o intangível. Por isso, ele continua invisível. Ou, porque é interessante para alguns, invisibilizado.
Riqueza
não apenas material,
mas ambiental,
social e simbólica.
Riqueza definida como “abundância
que não gera escassez”. Isso
implica inicialmente em mudança de foco do financismo predatório,
onde o dinheiro é investido na especulação, para o
desenvolvimento onde o dinheiro é investido na produção
sustentável.
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