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DESAFIO TOTAL DA STV vs OS VERDADEIROS PROCESSOS QUE A NOSSA MÚSICA PRECISA PARA DESENVOLVER - Parte II (Final)

Antes de deixar ficar os 7 pontos que a nossa música precisa para desenvolver. Permitam-me esclarecer que muitas vezes já apostei e acabei perdendo, mas desta vez, o povo moçambicano, particularmente aqueles que acompanharam o Desafio Total, foram justos ao votarem bem. E ao longo dos meses tive a fé que o voto seria justo, e concretizou-se. Já não tenho duvidas da nossa capacidade de saber o que é bom ou melhor.

Os Vencedores da 1ª Edição de Programa Desafio Total da STV. Foto: STV
Me nutrindo de tudo isso, da vontade de ver a nossa música em bons e melhores passos, deu-me a extrema força de diluir as minhas proteínas culturais em respeito profundo à nossa própria cultura. Não sei se serei feliz nas minhas ideias, mas deixem-me expor esta salada.

Nos lembramos que a agricultura, não é equivalente a música, mas deve ficar claro que o valor e o processo é idêntico, e todas experiências são válidas para a sua produção. Daí que proponho os próximos sete (7) pontos para o processo de desenvolvimento musical, não ignorando os que já existem na história da música, para o bem destes cantores que nós reconhecemos no programa Desafio Total de STV que terminou.

Eis a sugestão dos 7 pontos essenciais:

Primeiro: Este ponto, chamaremos de SEMENTE, isto é, das oportunidades e ideias, olhando atentamente as potências ou recursos musicais existentes: desde as instituições de ensino das áreas afins, neste caso a área musical, baseada na educação para criatividade, onde se circunscreve o pensamento prospectivo/sonho, um plano director que pode ajudar no desenvolvimento de talentos musicais através de programas de televisão e que obviamente, tenha imparcialidade possível. Este cenário será realizável ao assegurarmos o financiamento à pesquisa de talentos e fazer um programa olhando naquilo que existe no território. Verificar o que há para identificar as potências, aquilo que pode frutificar com o processo, beneficiando-se de tecnologias sociais, uma linha de pesquisa cientifica; “viveiro” para preparar projectos para incubação, como o exemplo de: UEM-ECA, Programas de TV (Desafio Total, Fama Show, Fantasia, O Caminho das Estrelas...) entre outros que já nem me lembro, mas que seriam importantes nesta lista. Este primeiro passo refere-se ao processo que a STV nos propôs com o Desafio Total, por outra, é o principio primeiro de um futuro desconhecido mas possível de concretizá-lo bastando seguir caminhos recomendados.

Segundo: Há várias formas para designar este ponto, mas aqui prefiro apelidá-lo de TERRENO, refiro-me concretamente a terra, dotado de ambiente propício para obter políticas e mecanismos adequados para nutrir o processo. E dar continuidade a semente (os novos músicos, novos artistas) com base nos treinamentos e reconhecimento, baseando-se numa advocacia, promoção, comunicação políticas, levantamento e sensibilização dos parceiros. Aqui é imperioso a aproximação entre empresas, universidades e canais de TV. Temos que preparar a terra para plantar a semente! Nos interessa plantar aqui e num futuro breve vender os viveiros para outros terrenos se forem realmente de qualidade desejável. Ou por outra, aqui trata-se realmente da criação do ambiente onde o artista vai expor as suas futuras obras. Não podemos esquecer que a fertilidade da terra é imperioso para o processo subsequente, isto é, o a terra e o povo moçambicano e todas suas estruturas devem deter de condições para a semente desenvolver ou por outra, o músico desenvolver.

Terceiro: Este passo é aquele o momento de MANEJO, da produção  e sobretudo que consiste na rega da semente que está semeada ou plantada no terreno, na terra, isto é, começa-se aqui a questão de nutrir um músico que surgiu de um programa, que teve uma orientação musical básica assegurada, e que está, num estúdio ou numa banda a desenvolver as aptidões musicais diferentes. E aqui começa-se o fomento, a colaboração, liderança. E inicia-se a fazer e a usar o adjectivo, os “Comos?”! Do tipo: Como faremos a produção das músicas? Como encontrar financiamento para a produção musical? Como faremos o marketing? Como venderemos o trabalho? Como será o mercado destas produções? E outros ´´comos´´ pontuais que serão apurados. Neste período faz-se produção musical; desenham-se planos de acção, operação, procura-se o financiamento. Obviamente, estamos a regar na semente, estamos a cuidar da planta que se tornará uma árvore com sinais de alguns frutos, uns verdes outros maduros.

Quarto: Este período proponho que se chame de COLHEITA, pois é, aqui se colhem os frutos, os resultados, os produtos, por outra, espera-se a colheita das produções musicais resultado de um processo assegurado por 3 anteriores pontos. Quando nos referimos da colheita: trata-se de resultados ou produtos. Mas há necessidade de exibir, atribuir acção integrada = optimizar, sustentabilidade, porque o resultado de um processo intangível (ideias, composições, harmonias, sons, etc) virou algo tangível, transformou-se em “coisa” = CD ou DVD algo que se pega. Logo, ela tem um valor acrescentado, tem um preço, tem um cliente.

Quinto: Este momento, é aquele que todo mundo, todo o músico quer chegar, é o tal que apelido por PROCESSAMENTO, onde agregam valor ao produto, isto significa, ir a busca de vários serviços ligados ao processamento do produto musical (CD ou DVD), como o caso, de diversificação de produtos ligados a linha de qualificação do produto, parcerias com mega-empresas que detém de potencialidades de marketing; linhas de diversas marcas (roupas, sapatos, relógios, bebidas, etc). 

Aqui também deve-se analisar as externalidades das derivações e filhotes ligados a produção de espectáculos e tornné do artista. E olhar atentamente pela especialização dos que se envolvem com os músicos, que tratam o produto ´´O músico e o álbum´´. O não menos importante é o sistema do marketing; “marquitetar” o músico, e o trabalho discográfico num só único produto, um só nome, uma só marca! E cria-se ajustes no decorrer do processamento; aumentar  resultados e rentabilidade.

Sexto: É o ponto mais crucial, que chamo de DISTRIBUIÇÃO. Distribuir é nada mais, nada menos que ´´tornar acessível o produto, a marca´´. Isto é, fazer chegar a sua música, o seu CD ou DVD nas mãos do cliente de forma fácil através de uma linha de distribuição variada. Tornar acessível significa, fazer o produto visível, através da divulgação em publicidades persistentes em circuitos e espaços apropriados  para a fácil acessibilidade e inserção de formas de comercialização.

Realmente, quanto a isso, o nosso País tem uma realidade diferente, mas é próprio de momento: a inexistência de editoras musicais. Actualmente, este processo é feito de uma forma independente. É óbvio, estando em crise, há sempre um meio-termo, por isso que há necessidades dos músicos se associarem a pequenas indústrias culturais, produtoras de discos, registarem as obras e obter o selo através do Ministério da Cultura de maneiras a ter os seus trabalhos no mercado.

Sétimo: É este momento que muitos de nós evitamos assumir como importante, trata-se da SISTEMATIZAÇÃO. Aqui trata-se de aprender com a experiência, fazer uma gestão de conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, fazer uma pesquisa sobre todos factores em volta da marca do CD ou do DVD, rever os indicadores e fazer um mapeamento com indicadores para avaliar ou monitorar. Fazer a adaptação e gestão de conhecimento, fazer replicas e aplicar, relatórios e quadros lógicos de resultados. Evolução = adaptação = melhoria contínua do trabalho artístico musical. Com a sistematização, não haverá razões do músico cometer os mesmos erros cometidos anteriormente.

Queridos amigos, aí estão os 7 pontos, podiam ter sido 20 ou 300 pontos, mas achei pertinente estes sete. Cada um de nós pode usá-los de maneiras a alcançar os seus objectivos, particularmente os vários artistas da nossa geração.


Bem, de maneira alguma pretendo esvaziar as várias formas ou processos existentes para que a nossa música se desenvolva. Até porque sou uma gota no oceano em volta desta matéria. Por isso, qualquer um de nós, pode acrescer com outros pontos de vista que nos ajudem no desenvolvimento da nossa música, da música moçambicana, porque este não é, e nunca será uma matéria acabada.

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