Não sou
especialista de moda, e nem participei em cursos do genero, mas a razão do saber
ser, estar e fazer na cultura, submete-me a estes pensamentos lunáticos. E convido
ao querido amigo a viajar comigo neste infinito de ideias para o
desenvolvimento de estilos de vida de um entusiasta
cultural do qual a Kuvona Produções influenciou.
Sabemos que os intangíveis, os atributos
culturais, distinguem, qualificam, adicionam valor. Mas ainda não
temos a real dimensão de que estamos
entrando em uma era da centralidade do intangível. Idéias, valores, conhecimento, imagem,
diversidade, originalidade, serão atributos chave no futuro e isso significa que cultura
passa a ser cada vez mais valorizada e estratégica. Mas, ainda vivemos
uma paradoxo: por um lado as
mensagens, como na publicidade,
expressam idéias, valores, atributos, conceitos - exemplo disso são os eixos das campanhas
das empresas de telefonia móvel de Moçambique. Por outro lado ainda há
falta de valorização e apoio das actividades e processos culturais, intangíveis, que seguem percebidos como gasto, e não investimento.
Porquê as consequências da
centralidade do intangível e o valor do cultural, o que isso significa?
Primeiro, significa as medidas e indicadores se ampliam: deixam de ser apenas
quantitativos a passam
a ser também qualitativos. Se antes o que importava era a
quantidade de vezes que um produto ou informação
era visto ou citado, hoje vale mais a qualidade
do contacto. Importa se seu produto ou
mensagem tem o poder de mobilizar,
criar sintonia de propósito, atrair,
fidelizar. A capacidade de atrair é um dos indicadores mais
valiosos no futuro, e cultura e as artes tem mais poder de atracção e mobilização
do que outras áreas. Veja o facebook, o twitter com mais seguidores: são
pessoas da área cultural. Hoje, vejam bem, o tema que mais gera comentários internacionais
positivos sobre o país é a cultura, através de vários atributos
e Patrimonios declarados como mundial, são todos de âmbito cultural,
intangivel.
II Edicao |
Reputação é o que pode
garantir que, num mar de opções similares,
você ou seu negócio sejam visíveis, desejados
e escolhidos. Ainda mais em um momento em que o público sabe o que quer
e o
que não quer, é cada vez menos consumidor, passivo,
e mais prosumer, activo.
A centralidade do intangível provavelmente provocará mudanças
consideráveis na economia e isso já se revela pela quantidade de
“economias” ligadas ao intangível que vemos surgir.
Economia da informação e do conhecimento, já conhecemos bem.
A Economia da Experiência: hoje, o quê mais gera
valor não é a matéria prima, o produto, mas sim o diferencial da experiência. O que dá valor ao café é menos o
grão ou o pó e mais a qualidade da experiência: pode valer um real no boteco ou quinze num
café na Piazza San Marcos...Elementos culturais é que
distinguem e dão valor à experiência.
Economia do Engajamento: valerá cada vez mais o que tem a
capacidade de engajar, mobilizar
para acção. Exemplo:
terá mais valor uma rede social com menos membros, porém mais activos (qualitativo), do que redes sociais com muitos
membros (quantitativo ) e pouco engajamento.E engajamento existe quando existem
valores e propósito compartilhados: ou seja, cultura compartilhada.
A Economia Criativa junta todas essas, já que, em síntese,
tem os recursos intangíveis como matéria prima. Vale lembrar que esta é uma das razões pelas quais é tão estratégica:
em crise de recursos naturais, finitos e escassos, nada mais lógico do trabalhar
a partir de recursos
intangíveis, infinitos, abundantes e
que se renovam e multiplicam com o
uso.
Cultura vem de cultivo,
aquilo que dá frutos. Temos operado com visão de curto
prazo, resultados imediatos, e aí de facto os resultados vem principalmente
dos números, da quantidade, do tangível. Mas em médio e longo prazo, os frutos são
garantidos pelo intangível, qualitativo, justamente por sua capacidade de atrair, consolidar reputação, gerar inovação,
engajar, fidelizar, oferecer
estratégias sustentáveis. Podemos mesmo acreditar que seguiremos tendo frutos, mesmo sem
cultivá-los? Podemos nos dar ao luxo de deixar de lado os indicadores que qualificam e
seguir medindo a cultura e os intangíveis com a métrica linear e unidimensional
da quantidade?
Então, é na
cultura, é no intagivel, é na indústria criativa, é na economia criativa onde
encontramos a Moda.
Olhando
por esta vertente, o Governo de Moçambique incentiva o estudo e a valorização das experiências comunitárias,
em todos os domínios do design ou da Indústria de design, como pressupostos para o
desenvolvimento de um sector do design autenticamente moçambicano, bem como a
prospecção de novas componentes do seu desenvolvimento.
Com vista a criar capacidades humanas neste domínio, o Governo privilegia a
formação de quadros moçambicanos e criação de laboratórios de criação e
desenvolvimento de modelos inovadores de produtos.
A moda
tem uma longa tradição em Moçambique que, nos dias que correm, conhece
progressos assinaláveis, com a entrada de estilistas profissionalmente
treinados. Uma das características peculiares do trabalho que têm realizado, é
a valorização das matérias-primas locais, a recriação de modelos tradicionais e
modernos.
A moda
está associada a vários produtos e actividades criativas, tais como a produção
de quinquilharias, artigos de beleza, de cabeleireiro, entre outros.
O Governo
estimula acções de valorização das tradições e do saber local, em termos de
indumentária, moda, beleza, penteados e sua combinação nas novas criações e
outras experiências.
O Governo incentiva, igualmente, o estudo, sistematização e divulgação das
práticas e conhecimentos locais neste âmbito, como forma de garantir a sua
perenidade, em tanto que fontes do saber, de história e de referência cultural.
Sendo assim, intendo moda como comportamento e estilo de vida está
inserida em quase todos os negócios. São poucas as àreas em que a imagem de
moda não é utilizada no mundo inteiro como alicerce de comunicação, venda e
posionamento de marca.
O Sociologo Brani
Kontic, na sua tese de doutorado na USP sobre SPFW defende a ideia de que o
significado do design para a indústria tradicional da moda equivale àquilo que a
biotecnologia significa para a indústria farmacêutica, ou àquilo que a física e
o estudo materias significam para a micro-electronica, ou ainda àquilo que a matemática
avançada significa para os softwares. Portanto, deve ser valorizado da mesma
forma. Se não apresentarmos essa realidade, a indústria da moda corre risco de
ser vista como pouco inovadora, pois dificilmente enxergamos o quanto existe de
tecnologia e investimento em cada peça de roupa.
I Edicao de Chuabo Fashion Day 2011 |
Em outras
palavras, moda é inteligência. É a competividade das indústrias que dependem de
criatividade.
Defino Chuabo
Fashion Day como um sistema que mistura indústria, serviços, arte,
design, vários tipos de conhecimentos e é, antes de mais nada, um espaço de
relações, onde as pessoas podem trocar, fazer conexões, abrir novas
oportunidades. Neste segunda edição, as pessoas encontram-se para mostrar o que
estão fazendo, dizem o que pretendem, que tipos de oportunidades podem gerar.
Acima de tudo o CFD
é, antes de mais nada, um espaço de relações, um ponto de convergência de diversas redes criativas.
Redes interdependentes com capacidade para trocar, ampliar, disseminar
conhecimentos e experiências, e inovar. Falamos de inclusão, de gerar
oportunidades para somar e construir.
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